As pessoas estão num estado de puro entorpecimento, que se arrasta numa agonia silenciosa e brutal. Somos tratados como crianças ingênuas e impotentes por políticos que assumem o papel dos adultos que sabem de tudo e não nos contam nada.
Esse sentimento de impotência nos deixa flutuando sobre um abismo profundo a espera da queda, que tem demorado a começar. Ou talvez, já estejamos caindo há tempos e esse entorpecimento de nossos espíritos não nos permita sentir o quão fundo é esse abismo.
Enquanto caímos em desgraça pelos pecados do nosso passado sombrio, os adultos da nossa nação assistem entusiasmados às bordas do abismo. Um time de cada lado, gritando ofensas uns para os outros, como torcidas organizadas em uma partida de futebol muito importante. Mas o que menos importa nesse jogo é o esporte. O interesse deles está na disputa e na conquista.
Não somos o prêmio, somos apenas as peças sendo movidas em um tabuleiro. Ora de um lado, ora de outro. É difícil saber para qual time estamos jogando, mas há somente uma certeza: não jogamos pela nossa própria causa.
Não existe causa, não existe propósito. Toda e qualquer glória que existiu na humanidade fora corrompida e se desfez aos poucos, enquanto todos caímos sem perceber.
Não estamos percebendo que nossos barcos já afundaram. E os adultos que nos condenam, que sopram nossas feridas apenas para causar danos maiores, estão todos em seus iates vendo-nos debater-nos em águas frias, matando uns aos outros com discursos de ódio que nada tem haver com nossa própria causa.
Mas, a mais dura verdade é que, não temos causa. Ainda estamos entorpecidos, vendo nossas próprias imagens nos espelhos que nos deram, sem nos dar conta de quem é esse ser que nos encara de volta com tanto horror no olhar. Nós não nos reconhecemos e não nos damos conta de que os monstros que nos aterrorizam somos nós.