Estou participando de um novo projeto para escritores chamado Projeto 642, que consiste em escrever sobre vários temas propostos pelo projeto, como um exercício de escrita. Pra quem não conhece O Projeto, ele consiste em uma lista de assuntos aleatórios para escrever sobre e funciona como um exercício para escritores fugirem do tão temido bloqueio criativo. E este é o segundo tema:
Eu estava lá, dividido outra vez entre fazer o que era certo e deixar meu coração pensar por mim. O dia estava ensolarado, mas um vento frio atravessava meu corpo vindo da janela aberta a minha frente. "Coração não tem cérebro, logo, ele não pensa" era o que dizia minha consciência. Mas vendo-a assim deitada nessa cama de hospital, com tantos tubo e frios a atravessar-lhe a pele cintilante de tão branca, era algo que me fazia vacilar.
Havia tantas almas que mereciam a minha atenção neste momento e eu me recusava a cumprir o meu propósito. Estava cego e agia em desconformidade com o universo. Sempre me perguntei se o universo era responsável pelo meu dom, mas agora percebo que a responsabilidade era toda minha. Queria viver eternamente com ela do meu lado e me senti estupidamente egoísta por isso. Me lembrei das vezes em que manipulei as pessoas sem perceber só pra conseguir o que queria. Foi só quando tomei conhecimento dos meus poderes que decidi ser altruísta. Mas será que estive me enganando todos esses anos? Ela tinha que ser minha!
Você é um super herói. Qual o seu poder e como você vai usá-lo?
Eu estava lá, dividido outra vez entre fazer o que era certo e deixar meu coração pensar por mim. O dia estava ensolarado, mas um vento frio atravessava meu corpo vindo da janela aberta a minha frente. "Coração não tem cérebro, logo, ele não pensa" era o que dizia minha consciência. Mas vendo-a assim deitada nessa cama de hospital, com tantos tubo e frios a atravessar-lhe a pele cintilante de tão branca, era algo que me fazia vacilar.
Havia tantas almas que mereciam a minha atenção neste momento e eu me recusava a cumprir o meu propósito. Estava cego e agia em desconformidade com o universo. Sempre me perguntei se o universo era responsável pelo meu dom, mas agora percebo que a responsabilidade era toda minha. Queria viver eternamente com ela do meu lado e me senti estupidamente egoísta por isso. Me lembrei das vezes em que manipulei as pessoas sem perceber só pra conseguir o que queria. Foi só quando tomei conhecimento dos meus poderes que decidi ser altruísta. Mas será que estive me enganando todos esses anos? Ela tinha que ser minha!
O quarto de hospital estava vazio. As enfermeiras já haviam passado por aqui e demorariam a voltar. Através da janela era possível ver a vida acinzentada que acontecia lá fora. Carros correndo para lá e para cá no frenesi de quem tem pressa pra chegar. Mas ela estava em uma vida nublada e enegrecida. Numa escuridão de pensamentos estonteantes. Poucas vezes entrei em mentes tão profundamente pesadas e confusas. Seus pensamentos estavam desorganizados, sem sentido.
Num momento de distração, me vi em outro lugar. Um lugar branco e iluminado. "Não, não pode ser!" pensei comigo. Aparentemente pensei em voz alta porque alguém respondeu. Demorei para perceber que a resposta vinha da minha própria mente, mas não eram pensamentos meus. "Coitado" a voz continuou no pensamento "ela já nem deve estar mais aqui. Pobre rapaz... Devia, pelo menos, deixar que ela descanse em paz".
Me vi pelos olhos da enfermeira parada na porta de vidro. Percebi que estava mais magro do que me lembrava, meus cabelos estavam ridiculamente compridos e desarrumados e eu estava tão pálido quanto ela. Como se eu estivesse morrendo também. As roupas pretas que usava davam um contraste horrível ao ambiente. Percebi que parecia um urubu no quarto, pronto para devorar a carniça. Ou será que era isso que a enfermeira pensava? Resolvi vasculhar a mente dela, como um ato rebelde de um adolescente imprudente e egoísta. Percebi que ela pensava em dezenas de outros pacientes que imploravam por vida. Me senti envergonhado, eu deveria estar ajudando... Eles queriam viver. Amanda apenas deixava-se esvair de seu corpo, como se desejasse a partida. Sem nenhuma despedida.
Voltei a mim e percebi que minha cabeça doía. A enfermeira estava segurando minha cabeça para trás, contendo o sangramento no meu nariz. Parece que me concentrei demais para encontrar a consciência dela.
A enfermeira me levou ao ambulatório, onde me obrigo a deitar em uma maca desconfortável. Me permiti relaxar por um minuto, para cessar o sangramento e a dor. Cinco minutos de paz silenciosa que valeram cada segundo. De repente, fui tomado por uma dor súbta no peito, como se tivesse sido atingido por um raio e ouvi o médico dizer "é a terceira vez hoje! Vamos lá, Romeu, ajuda a gente!". Então, ricocheteou para o outro lado da sala, a dor se transferiu para os ossos do quadril e a voz dizia "sai logo, filho!". Como assim? eu vou dar a luz? Ah não! Eu preciso sair daqui. Acho que não foi uma boa ideia relaxar em um hospital.
Levantei-me desesperado e corri para fora do hospital, parando somente quando havia deixado uma distância segura entre nós. Sentei-me na calçada perto da Rodovia e relaxei de novo. Dessa vez, não houve paz, deslizei imediatamente para outra mente. O dia de hoje me deixou muito desastrado, parece até meu primeiro dia.
Dessa vez era uma jovem. Devia ter pelo menos uns dezessete ou dezoito anos. Mas era pequena como uma criança e desnutrida. Os pensamentos dela eram atordoados, mas claros. Havia outra consciência, mais fraca, mas igualmente cheia de vida. Ela estava grávida. E pensava claramente que não queria estar mais. "Você não pode fazer isso!" pensei de sopetão, sem perceber que gritava na mente dela. Ela abriu os olhos num susto e pude ver a Rodovia movimentada afrente dela. Como ela podia pensar em acabar com duas vidas... Eu estava tentando desesperadamente salvar Amanda, cuja mente parecia ter desistido da vida. E ela estava pronta para por fim a, não uma, mas duas vidas. Por fim àquela pequena vida dentro dela. Sai da mente dela e procurei-a ao longo da Rodovia. Lá estava ela, envolvendo o ventre com os braços e recuando até cair de joelhos no asfalto.
Reencontrei meu propósito. Me senti satisfeito e feliz, enquanto a conduzia para o hospital. Convenci-a a procurar a ajuda. Observei-a acompanhar uma assistente social. E fui tirado do meu estado de êxtase pela enfermeira que vira mais cedo.
_ O médico quer vê-lo agora.
Segui-a até o quarto, onde Amanda permanecia imóvel. O médico me fixou com aquele pesar nos olhos que eu conhecia bem. Ignorei-o e vasculhei o quarto em busca da mente dela. Mas nada encontrei. Ela desistiu. Ela partiu. Desisti de busca-la e peguei o médico no meio de uma frase.
_ ... ela está nafila de transplantes há quase dois anos. E, e o senhor concordar, ela poderá ajudar ele a sair da fila. Seria uma útima contribuição que ela faria a esse mundo.
_ Não, senhor. Será a primeira. _ e assinei os papéis e sai do quarto para que os médicos e enfermeiras prosseguissem.
_ O senhor não vai se despedir de sua esposa? _ o médico parecia preocupado e eu não tive o interesse de entrar em sua mente para saber se era verdade.
_ Ela não está mais aí... _ disse e segui para continuar cumprindo meu propósito: salvar mais vidas, aquelas que queriam ser salvas.
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