Manhã de chuva num
sábado meio triste. Parece aé que o céu chora. Abro a janela para testemunhar o
derramar do das lágrimas divinas. Abro a janela e vejo o céu branco coberto de
nuvens densas que desempenham seu papel de protetoras do manto azul que chora. Com
essa textura uniforme as nuvens me lembram uma folha em branco, sem linhas. Que
nos dá a liberdade de pintar sobre ela as cores que nos representam e nos alimentam.
Abaixo das nuvens os
morros verdejantes e avermelhados trazem a esperança em expansão. O desejo da
escalada e a vitória em picos de consagração. Depois vem a descida, como em uma
montanha russa dá aquele friozinho na barriga e uma pequena excitação.
Ao pé do morro estão as
casas e nessas casas está o povo. O povo mineiro, que é calmo e religioso. Um
povo que às vezes é preguiçoso, mas que faz graça de tudo e ainda é caridoso.
Um povo que anda devagar e vive sem pressa.
Ao longe eu vejo as
fábricas. A fumaça denuncia a indústria que nunca para. A produção em massa do
mineiro que se arrasta. Dali sai o produto que alimenta o mundo. O mundinho do
mineiro que é astuto. Carros entram e saem e o som das máquinas é o que eu
escuto.
A rodovia pulsa
conscientemente da sua tarefa contínua. A travessia de histórias que poderão se
encontrar um dia. Ligando corações apaixonados e familiares apartados pela dura
vida de ter que se dividir entre os dois lados. A rodovia sabe e não julga nem
condena. Não julga o jovem de bicicleta na contramão fazendo graça na rodovia
quase vazia. Não condena o motociclista que caiu depressa bem no meio da rodovia e o sangue que escore
pondo em risco a sua vida. A rodovia é imparcial às vidas que correm sobre o
asfalto, sobre as razões que as levam para cada lado, sobre as vidas que ali se
arriscam e sobre os que preferem ali nem serem vistos.
O céu finalmente se
entrega ao choro, num soluço silencioso. Triste pelas muitas histórias que
ignoramos. Triste pelas muitas vidas se estão se desencontrando. Triste pelo
fato de que muitos mineiros estão ali só trabalhando e nunca descaçando. Os mineiros
que dispersos, se revoltam em silêncio e seguem trabalhando na esperança do
reencontro com aqueles que vêm amando.
Projeto 642 - Cinco coisas que você vê do lado de fora da sua janela.
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