Querida BFF
Estamos já ha alguns muitos dias sem nos ver, mas gostaria de dizer que
nossa amizade será eterna como sempre dissemos para nós mesmas. Nos últimos
dias dessa abstinência de uma presença amigável senti o quão importante és
para mim. Não pelos seus conselhos que, sejamos honestas, não eram lá grande
coisa. Tampouco pelas conversas vazias e bobas. Pelas horas gastas falando
sobre os garotos da nossa turma, sobre as meninas malvadas que nos faziam de
gato e sapato, usando nossa fraqueza para validar os defeitos de caráter delas.
Não sinto falta das longas caminhadas que fazíamos da escola até o bairro onde
morávamos, às vezes esticando o traJedo e dando voltas sem sentindo apenas para
permanecermos mais tempos juntas conversando. Minha nostalgia não se deve aos
lanches compartilhados, nem às várias viagens planejadas, aos preparativos para
nossos casamentos e as promessas de que seríamos madrinhas do primogênito uma
da outra.
A verdade é que sua ausência me fez perceber o quanto dos meus planos
eram seus também. O quanto participávamos da vida uma da outra. O quanto nossos
planos estavam entrelaçados e seguiam uma linha paralela que sempre se cruzava
por causa da coordenação desleixada com a qual desenhávamos essa linha
imaginária de vida. Agora que somos mais velhas, que temos a destreza da maturidade
nossas linhas seguem paralelas. Consigo ver seus planos – os que você desenhou
sozinha – sendo realizados e me alegro com sua felicidade de longe. A velhice
nos faz acreditar que mesmo as meninas malvadas podem ter seu final feliz sem
que seja problema nosso. Mas ver sua melhor amiga sendo feliz sem você é algo
que às vezes corta o coração. Esta festa também é minha. Por isso entro sem
convite mesmo e lhe obrigo a aceitar o meu presente. E junto com ele lhe trago
também a minha gratidão. Pelos anos divididos, pelos planos diluídos, pela vida
que vivemos.
Os que nos veem celebrando modestamente em uma cafeteria qualquer, com
aquele pedacinho de bolo de cenoura com chocolate não sabem que este é um pedacinho
de infância, que está mesa é uma intercessão entre nossas linhas e que nossos
sorrisos são os mais inceros, embora agora sigam mais discretos. Não nos
casamos no mesmo dia, também não nos apaixonamos no mesmo dia, não encontramos
príncipe encantado, não ficamos e nem viajamos para Paris de uma hora para a
outra. Aqueles planos infantis que nos faziam suspirar e pensar que a vida
poderia ser um conto de fadas como nos filmes. Acabamos descobrindo que a vida
está longe de ser como nos filmes, mas que os contos de fadas existem sim. O príncipe
não é encantado, mas graças ao bom Deus não precisamos sair por aí beijando
sapos. Embora uma ou duas vezes quase o fizemos – ufa! Ainda bem que você
estava lá para me alertar.
Não somos mais princesinhas do papai, não sofremos mais com as meninas
malvadas que usavam salto alto para ir à escola, não precisamos nos envergonhar
por não saber de algo. Muito pelo contrário, descobrimos que na maioria das
vezes a ignorância é uma bênção. Somos agora rainhas do lar, temos nosso
pequeno reino e nele vigoram nossas regras, nossas leis. Convivemos agora com
as meninas malvadas numa boa e a chamamos de falsianes. Nossa rotina está cada
dia mais agitada e o tempo para nós está cada vez menor e mais rápido. Deixamos
de ansiar pelo fim de semana para reclamar do quão rápido a semana acaba e os
afazeres continuam por fazer.
Mas mesmo com um reino inteiro para governar e com tão pouco tempo para
gerenciar, espero que não se esqueça de fazer as pequenas intercessões entre
nossas linhas imaginárias de vida. Que de vez em quando busquemos estender um
pouco a caminhada para dividir os planos que agora são individuais, mas que
pertencem a nós duas. E que nunca nos esqueçamos de compartilhar nossas
alegrias, porque no fim das contas, você será para sempre minha amiga.
Lots of Love
Sua BFF
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