Estefânea, tinha quatro medo mortais. Medo de altura. Medo de barata. Medo de balão. E medo da câmera que ficava no alto da escada do salão de beleza da Andressa. A câmera filmava a recepção. Tinha uma luzinha vermelha que piscava avisando que funcionava. Estefânia uma vez ouviu Valéria dizer que era o olho do cão. Valéria era cabeleireira e trabalhava no salão da Andressa desde sempre. Ela sabia das coisas.
A mulher, faxineira com seus quarenta e poucos anos, vivia espantando as meninas da recepção. "Olhem ali moças, aquele é o olho do cão", ela dizia e saia da vista da aberração. Diziam que o coisa ruim podia ver sua alma. Valeria disse uma vez que Estefânea era muito boba. "O máximo que ele vai fazer é querer olhar debaixo da sua saia", dizia a cabeleireira e dava risada. A faxineira puxava a saia mais para baixo dizendo baixinho: "crendeuspai".
Um dia a câmera quebrou e os técnicos vieram concertar. Dois jovens atrapalhados de uniforme verde limão. Eles mexeram e remexeram. Depois desistiram e levaram o aparelho inteiro. "Ate que enfim, se livraram do olho do cão", Estefânea respirou de satisfação. continuou seu trabalho, limpando o salão. Depois de alguns minutos Valéria pegou no braço da faxineira e falou baixinho só para ela ouvir: "É hoje que a gente vai ter que ver a cara do cão". A mulher entrou em desespero, virou-se para o alto da escada com palpitação e deu de cara com a assombração. Era Armando, o sócio do salão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário