Beijocas - As Ruínas de Jorge

Jorge balançava a cabeça em sinal de afirmativa e negativa. As vezes pronunciava algumas palavras comuns mas que não tinham um significado concreto. Como aquelas respostas prontas  que se dá pra tudo quando não se tem resposta pra dar ou quando não se quer responder a verdade.

Mas a verdade é que ele estava preocupado com sua casa. Seus pertences - pelo menos os que conseguiu encontrar no meio do entulho - estavam ainda na calçada ao lado do carro de Oswaldo.

Ele se perdeu novamente em seus pensamentos, enquanto seu amigo e sua vizinha falavam dele na terceira pessoa. Ele resolveu levantar e foi em direção ao carro de Oswaldo. Agachou em frente aos objetos e foi tirando a poeira delicadamente.

Primeiro pegou um livro de capa negra e letras douradas que estava coberto de cinzas, abriu-o e limpou a primeira folha. Nela dizia: “Com muito, muito orgulho para o meu objeto de estudo preferido. Beijocas” Beijocas? Ele questionou seu subconsciente. Quem escreveria isso em uma monografia. Que narcisismo…

Em seguida pegou um quadro que estava com o vidro quebrado e despejou os cacos sobre a calçada. A foto havia sido danificada. Mas dava pra perceber que era ele e uma mulher abraçados em um banco de praça. Não era em Guerrilândia, porque ali não havia lugares bonitos como aquele, com árvores e praças. E também porque em Guerrilândia não se podia ficar tão descontraído. Era preciso estar atento ou sua casa poderia pegar fogo a qualquer momento.

Oswaldo veio monitorar seu amigo mais uma vez. Margarete deu um pedaço bem grande de bolo para ele levar e voltou para sua casa, para sua vida.

_ Jorge, vamos embora. Não tem mais nada aqui.

_ Eu ainda tenho que pegar as outras coisas. Tem muita coisa debaixo do entulho.

_ Já tá tarde, vamos.

_ Não posso ir que vai chover.

Alguns minutos depois de assistir os amigos discutindo Euclides veio ao encontro dos dois com uma lona preta nas mãos.

_ Olha Jorge, eu acho que deve cobrir pelo menos parte do entulho. Assim você não perde tudo com a chuva, né. _ Euclides era mesmo um homem bom. E sabia quando deixar as pessoas devanearem com seus próprios demônios.

_ Obrigado Euclides.

As Ruínas de Jorge, Cap. 5

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