Jorge estava sentado próximo à janela do apartamento que dava vista para o playground quando Oswaldo chegou do trabalho. Juliana havia lhe telefonado dizendo que ficaria no trabalho até mais tarde para dar conta de uma encomenda para uma festa de casamento. Jorge olhava para seus pertences dentro de uma caixa de papelão, Oswaldo chegou perto dele e deu um tapinha de leve em seu ombro, Jorge pareceu se assustar com a presença do amigo. Então Oswaldo pegou uma cadeira e colocou ao seu lado.
_ O que tem de interessante nesta caixa?
_ A minha casa... _ Jorge estava com os olhos vermelhos mas secos. Depois de dar um suspiro profundo que fez o ar ecoar dentro do peito pegou o livro de capa preta e letras douradas e entregou à Oswaldo. Depois Jorge pegou a fotografia que estava ficando cada vez pior de tanto que ele mexia. Oswaldo pegou a fotografia e deu uma examinada na foto.
_ Eu lembro desse dia. Foi o aniversário da Juliana, não foi? Vocês estavam cheios de segredinhos. Você nunca me contou o que foi que deu de presente pra ela. O que foi?
_ Esses brincos. _ Jorge pegou umas pedras parecidas com cristais que estavam penduradas em um pedaço de arame. Um dia aquilo foi um brinco, talvez. Estavam quebrados, mas ainda tinham um brilho reluzente que os deixavam lindos.
_ Ual! Você deve ter gasto uma fortuna com eles.
_ Na verdade não. Foi o que eu recebi como pagamento de um serviço que fiz na Irlanda.
_ São de verdade?
_ Eu não sei...
Jorge se perdeu em pensamento pela janela afora. Olhava um cachorro de pequeno porte que brincava no playground. O cachorrinho subia pela escada do escorregador colorido e se jogava do outro lado e dava um pulinho quando chegava lá embaixo. Com um rabinho de espanador agitadíssimo fazia a volta no brinquedo e subia de novo. E de novo. Parecia não se cansar, aproveitando que estava sem supervisão, livre para se divertir. Então os olhos de Jorge se cobriram por uma névoa embaçada, sua respiração ficou ofegante e suas mãos tremiam. Oswaldo correu até a cozinha e pegou um copo de água. Depois foi até o banheiro e abriu o armário de remédios de onde tirou uma cartela de comprimidos e destacou um. Voltando para a janela onde estava Jorge encontrou o amigo curvado em suas pernas se desmanchando em lágrimas. Entregou-lhe o comprimido e teve que insistir um pouco para que ele tomasse.
Ficou ali durante um tempo esperando ele se acalmar. Quando Jorge finalmente parou de chorar Oswaldo teve um insight, levantou-se e colocou um samba para tocar na televisão. Ao retornar para a janela encontroou Jorge a procura do cachorro que já não estava mais lá.
_ Eu quero ir no veterinário ver meu cachorro. _ ele falou de supetão, deixando Oswaldo sem reação _ Ele deve estar sentindo minha falta.
_ Mas Jorge... Eu não sei se é uma boa ideia. Olha pra mim, você está mito triste e já está de noite. Descansa um pouco depois a gente conversa. Vou pegar algo pra você comer, ok?
_ Não! Eu ir no veterinário ver o meu cachorro! E não me trate como uma criança.
Oswaldo não teve escolha. Pegou as chaves de seu carro e os dois saíram. Oswaldo estava inquieto atrás do volante. Dirigiu em silencio até uma estrada menos povoada. Havia uma quadra de esportes de um lado e um grande muro do outro. O muro se estendia por toda a estrada. Oswaldo dirigiu até chegar à uma portaria, onde havia apenas um guarda. O guarda apenas acenou com a cabeça dando permissão para que ele entrasse com o carro.
Ele estacionou perto de uma casinha com várias portas de vidro meio escuro. Eles desceram e Jorge parecia perturbado. Caminharam por um jardim de grama verde com algumas arvores contornando as ruas de paralelepípedo. Ao chegarem ao fim de uma das ruas desceram por um caminho de pedras até um pequeno buquê de rosas cor-de-chá. Havia uma lápide de mármore onde estava escrito “Eliza Oliveira – amada esposa e amiga”.
Jorge olhou a inscrição na lápide e ficou atordoado, em pânico. Ajoelhou-se sobre as flores e começou a chorar. Chorou um choro sem fim. Destruiu os pulmões a ponto de não conseguir respirar e caiu por cima da lápide inerte e com os olhos encharcados.
Cap. 10 - As Ruínas de Jorge
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