Eu ainda tenho medo. Tenho medo das coisas que eu não vejo. Tenho medo de sentir medo e de me ver do avesso, com medo. É estranho que eu sinta medo, porque mesmo quando enfio a cara no travesseiro é só no escuro que eu vejo. Eu me vejo e sinto medo. Medo porque já não sou mais a mesma, não tenho a mesma aparência. E às vezes sinto que me perco e então me vejo, outra vez do avesso e com medo.
É estranho que a gente sinta tanto medo. Dizem que a vida acontece de qualquer jeito, mesmo quando a gente sente medo. A diferença entre sentir e não sentir o medo, é que quem não tem medo não tem apego. É gente que se joga de corpo inteiro.
Mas eu tenho medo, eu me contenho e não me atrevo. Eu não me atrevo. E tenho apego. Me apego ao que eu não tenho e que me dá medo. Me abala as estruturas em pensar que meu corpo é denso e não vai ficar ileso. Meu corpo é frágil e por isso eu não saio sem armadura. Porque tenho medo.
Há quem pergunte qual é o motivo de tanto medo e eu me perco, faço rodeios. Tenho medo mesmo é do próprio medo. Que me agarra o corpo, me tira a voz e faz de mim a mesma, sempre com medo.
Eu sei.... Eu sei que não faz sentido sentir tanto medo. Mas eu temo que a ausência do medo me roube o zelo. Não é a toa que quem não tem medo arrisca tudo e não olha pra trás. Não se apega e vive em paz. E é tão sagaz.
E mais, temo que um dia ninguém se importe mais, nem corra atrás. Ilhas e ilhas empareadas, cada uma com sua paz e nada mais. Assim é fácil viver em paz, sem ter medo das coisas que se desfaz. Sem medo daquilo que lhe desfaz e lhe refaz.
Talvez eu deva mesmo deixar o medo e seguir em paz...
Você não tem medo? Então, como é que faz?
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