Seguindo a proposta de leitura que me propus este ano, seguem meus comentários sobre os livros lidos neste mês de março. Antes de abordar os livros em si, gostaria de abordar uma curiosidade que pra mim é, em certa forma, surpreendente. Percebi, depois que criei uma meta de leitura, que adquiri certo ritmo para cumprir os prazos propostos. Mesmo que este prazo seja implícito e totalmente flexível, estou me empenhando para cumpri-los com uma determinação curiosa. Eu sou afeita aos prazos, sempre trabalho melhor assim, com data para entregar. Mas quando se tratava de leitura nunca tinha me submetido aos prazos. Vale a pena experimentar, nem que seja uma vez e em curto prazo.
Os livros deste mês não foram escolhidos, foram meio que achados. Tem o volume de contos de Clarice que há muito queria ler. Dei início aos contos. E ainda encontrei outros três numa promoção sedutora na Livraria Nobel. Mantive o padrão com o qual me comprometi no começo do ano: metade Literatura Brasileira e a outra metade estrangeira. Agora vamos aos livros:
As 52 profecias de Nostradamus, do autor Mario Reading, publicado pela Editora Record em 2010, é um livro que me lembro de ter visto na internet e fiquei muito curiosa para ler. Quando vi ele lá na promoção da Nobel peguei na mesma hora. Para quem não sabe, Nostradamus é um grande profeta (médium, bruxo, vidente, como queira chamar) muito citado na história do mundo. Ele previu vários séculos a sua frente e até o fim do mundo. Foi - eu arrisco a dizer - um dos pioneiro na previsão do futuro. É um personagem histórico que está ligado aos mistérios da humanidade. Foi ele quem citou e previu o surgimento dos três anticristos e a relação destes com o fim do mundo. A partir de suas profecias surgiram muitas teorias de especulação e estudos reais sobre a concretização dessas profecias.
Agora sobre o livro: apesar do título ser as 52 profecias, não se fala muito sobre elas. O personagem principal, um escritor estudioso do grande mito que é Nostradamus, sai em busca das tais profecias perdidas e depara-se com uma realidade diferente e rica em rituais e regras alheias a civilização contemporânea. O enredo transcorre através desse escritor e dois ciganos que vêm a se tornar sua família. Confesso que, quando comprei o livro, pensei que seria uma história mais cult e cheia de formalidade ao qual o assunto é tratado com frequência, mas foi uma leitura muito tranquila e divertida. O objetivo dos personagens é encontrar as profecias, mas a história em si é sobre as relações cívicas e os relacionamentos dos personagens. Não é nada intelectual, é entretenimento e eu recomendo. O livro tem 362 páginas que eu devorei em uma semana.
Esse eu comprei pelo título. "Agora Deus vai te pegar lá fora" do autor Carlos Moraes, publicado também pela Editora Record, em 2000, se passa na época da Ditadura Militar, mas aborda a experiência de um padre que é preso pelas circunstâncias do governo na época e na cadeia passa a questionar sua própria vivência.
O autor tem um ritmo tranquilo e leve, típico de quem n]ao tem pra onde ir. E nessa tranquilidade do cárcere, o personagem discursa sobre questões filosóficas e sobre a fé. O livro é uma afirmação de que o que necessitamos é tão pouco em comparação ao que ansiamos diariamente e em vão. São 287 de fragmentos e anotações do padre, por horas divertidas e despreocupadas, outras de uma profundidade que nos faz refletir o verdadeiro sentido da vida. É mais um na lista dos brasileiros que eu recomendo.
E se eu comecei o mês lendo sobre as profecias perdidas do grande Nostradamus, porque não seguir prevendo o futuro e matando cabras com o olhar. "Os homens que encaravam cabras" de Jon Rondon, publicado em 2010 pela Record (me parece que a Record estava muito preocupada em saber do futuro em 2010... ). O livro aborda os Estados Unidos pós "11 de setembro", preocupadíssimo com o Terrorismo e louco na busca por "armas" mais eficazes na luta contra seus inimigos. Nao é um livro sobre a guerra. Mas sobre o exercito se metendo com assuntos que não são comuns aos militares. Ou pelo menos não eram até então. Aqui começam a ficar evidentes os sequestros de supostos terroristas e as experiências militares.
É um livro que gira em torno de questões duvidosas, às vezes meio exageradas - na minha opinião - mas que podem muito bem ser verídicas. O texto tem a forma de um relato ou um documentário. E apesar de ser ficção, me parece muito com aqueles trabalhos científicos cheios de referências (o Capitão Rogers que o diga). Muitas técnicas de tortura impensadas até então são enumeradas e forma um tanto caótica que os EUA assumiu em suas estratégias após os atentados terroristas ficam evidentes nesse livro. As 302 páginas desse livro vão lhe deixar com a pulga atrás da orelha.
Finalmente comecei a leitura de Todos os contos, da Clarice Linspector. Comprei a edição de luxo publicada pela Rocco no ano passado. E este mês eu li o primeiro livro (o livro trás todos os livros de contos reunidos em um só volume) chamado Primeiras Histórias. Clarice era sem dúvida ma mulher pensante, mas a forma como ela escreve está ao alcance de qualquer pessoa, intelectual ou não. Nessas "Primeiras histórias" ela descreve mulheres subjugadas e dependentes, mas de alguma forma inquietas. Talvez os textos traduzam - como ela mesma mencionou em uma entrevista - a própria Clarice com seus vinte e pouco anos e sedenta por aventura, em busca de seu lugar no mundo. As mulheres que ela escrever são todas independentes, mas anseiam por espaço e reconhecimento. Dessa sessão os contos de que mais gostei são Obsessão que traduz o inconformismo e a busca pela vitimização de si mesmo; e Gertrudes pede um conselho que descreveu uma de minhas experiências de vida, mostrando do ponto de vista de gente como eu o quão insuportável é dizer a uma mulher que do que ela precisa é de um "namoradinho", como se andar embaixo do braço de um "namoradinho" fosse o único objetivo de jovens de dezessete anos. Eu com meus dezessete anos estava buscando meu lugar ao sol, então me identifiquei. E ainda me assusta saber que ainda hoje estamos todas ressentidas com esse questionamento - e os namoradinhos?.
Esses foram os livros de março. No próximo mês discursarei sobre mais quatro livros aqui. O que vocês leram este mês?
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