SOBRE OS ALTOS E BAIXOS


A vida é cheia de pregar peças na gente. Nos joga pra cima, nos poe pra baixo, nos sacode de um lado pro outro. Faz o maior embaraço. Às vezes faz a gente mudar de lado. Faz com que tudo fique mal acabado, mal resolvido. Parece que a vida gosta de encher nossas histórias de plot twists que fazem a maior bagunça em nossas cabeças. Na minha pelo menos é assim. Uma hora estou em cima, de bem com a vida, sorrindo e curtindo o momento que é só meu. Em outros momentos estou apenas descendo e descendo e descendo uma descida tortuosa e sem fim. Parece que a vida é ladeira. Aquela coisa íngreme que é difícil pra cacilda de subir. Daí, se você tropeça em alguma coisa, pronto, é só cair.
Eu já estive lá em cima, mas nunca subi tão alto. Acho que sou especialista na arte de cair. E como caio. Caio sozinha, assim, sem ninguém por perto. Eu mesma tropeço nos meus pés e saio rolando ladeira abaixo. Vida abaixo. E a vida põe-se a rir de mim. Eu nunca ouço seu riso - que é abafado - porque a vida me observa lá do alto. Incisiva. Imperativa. A minha vida.
E há quem vá me dizer que a vida é feita de altos e baixos. E eu digo, eu sei, bem sei. Mas quem é que quer viver aqui em baixo? Todo mudo busca o que está no alto, o que é mais caro, o que é inalcançável. A perfeição. A projeção da própria vida lá no alto. A gente quer o que é melhor, o que é mais gostoso, o que dá mais prazer, o que vem mesmo por querer. O que dá vontade, o que tem vontade. E sem essa de bom samaritano querer dizer que é preciso viver na humildade, que menos é mais. Menos não é mais. Menos nunca foi mais. Mais é mais.
Mas como estou aqui em baixo, vou juntando meus caquinhos na humildade. Vou levantando devagarzinho. Sem fazer alarde. Recomeçar a minha viagem. A beleza da vida que me aguarde. Estou subindo, de novo. De novo sim. E mesmo se eu cair - de novo - vou continuar a subir. E subir. E subir. E subir eu ei de subir até onde a vida ria de mim. Vou perguntar pra ela por que que a gente tem que cair tanto assim. Por que que quando a gente cai sempre dá vontade de subir mais? Por que a gente aprende que nunca é suficiente e nem se assusta quando a vida ri da gente? Eu vou perguntar pra ela assim: vida por que você só ri de mim? Por que você não rola ladeira abaixo? Eu tenho um papelão e lhe corto um pedaço. Desceremos juntas, lado a lado. E quando chegar lá em baixo, a gente ri junto. Porque quando a gente ri junto é mais engraçado. E mesmo estando em baixo - de novo - a gente sempre pode subir - de novo. Porque cair faz parte. E persistir é uma arte.

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