Ela sempre acorda todo dia de manhã. Pega eu caderno e caneta. E então senta-se na varanda para ver a vida passar. E enquanto a vida vai passando vai escrevendo seu livro diário, descrevendo a vida a passar. Já foram muitos diários escritos na varanda e muitas vidas a passar. Os personagens são sempre os mesmos, os transeuntes que vivem pra lá e pra cá.
Às vezes ela escreve em pé na varanda, interagindo com os personagens a passar. Às vezes deita-se no chão e escreve à espiar pelas grades da varanda, sem ninguém notar. Os personagens já estão acostumados com a escritora que vive a observar.
A iniciativa do diálogo é sempre da personagem que por hora se intriga e se põe a questionar. “Tudo bem com você, jovem escritora?” e a escritora sorridente põe-se a transcrever o diálogo entre ela e aqueles que somente ela vê.
E é estranho pensar que os personagens são reais, tão reais como aqueles que vem de mundos surreais. Eles cantam, dançam, discutem a politica insana de um mundo que emana a fantasia que é viver.
Mas a escritora não e cansa e vive ali nessa varanda. Dia após dia seus personagens a encantam e preenchem o vazio de sua varanda, vão passeando por entre as folhas e às vezes sofrem com sua força, esmagados contra o papel.