Transeuntes de papel

Ela sempre acorda todo dia de manhã. Pega eu caderno e caneta. E então senta-se na varanda para ver a vida passar. E enquanto a vida vai passando vai escrevendo seu livro diário, descrevendo a vida a passar. Já foram muitos diários escritos na varanda e muitas vidas a passar. Os personagens são sempre os mesmos, os transeuntes que vivem pra lá e pra cá.



Às vezes ela escreve em pé na varanda, interagindo com os personagens a passar. Às vezes deita-se no chão e escreve à espiar pelas grades da varanda, sem ninguém notar. Os personagens já estão acostumados com a escritora que vive a observar.

A iniciativa do diálogo é sempre da personagem que por hora se intriga e se põe a questionar. “Tudo bem com você, jovem escritora?” e a escritora sorridente põe-se a transcrever o diálogo entre ela e aqueles que somente ela vê.

E é estranho pensar que os personagens são reais, tão reais como aqueles que vem de mundos surreais. Eles cantam, dançam, discutem a politica insana de um mundo que emana a fantasia que é viver.

Mas a escritora não e cansa e vive ali nessa varanda. Dia após dia seus personagens a encantam e preenchem o vazio de sua varanda, vão passeando por entre as folhas e às vezes sofrem com sua força, esmagados contra o papel.

Descentralização do EU

Eu não quero mais escrever, ou me desenvolver. Acho que vou terceirizar o meu ser. Vou deixar que outro venha me viver. Não quero trabalhar ou me renovar, vou deixar outro me levar. Assim eu gasto menos, me preocupo menos. Assim, não vou ter no que pensar.
É assim que se renova o ciclo. A roda da fortuna gira, troca tudo de lugar, deixa a sorte te levar e te deixar. Vou terceirizar também a minha sorte e esperar que um dia ela volte, que me leve à algum lugar.
Decidi que vou parar de caminhar, vou deixar para outro o meu andar e deixar que me levem, que me carreguem. Só pra ver onde vou chegar.
Vou terceirizar minhas atividades pensantes e “mastigantes”, no que diz respeitos aos assuntos mais intrigantes, aqueles que me dão trabalho pra pensar. Vou deixar outro pensar no meu lugar, me dar as conclusões e o roteiro do que vou falar. E se houver perguntas, vou deixar outro responder no meu lugar.
Acho melhor me descentralizar, deixar o outro me comandar, me direcionar, me programar e me executar. 


SONHANDO


Eu sonhei
Sonhei muito
Sonhei alto
Vivi sonhando

Eu sonhei
Em um mundo
Apressado
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Em ser mais culto
E atarefado
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Em colher os frutos
Do meu trabalho
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Deixei de ser mudo
E ignorado
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Na corda bamba
Me equilibrando
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Quis ser tudo
Fui apaixonado
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Ouvi um insulto
Fiquei apavorado
Eu vivi sonhando

Eu sonhei
Em ser mais astuto
Ser aclamado

Eu vivi sonhando

OURO DOS TOLOS DOS OUTROS


Somos os outros

Somos os bobos

O ouro dos tolos



Somos os monstros

Os monstros dos outros

De todos os tolos



Somos os outros

Todos são bobos

Uma vida de tontos



Estamos todos tontos

Brigando uns com os outros

Pelo ouro dos tolos



Somos os outros

Os bobos, os tolos

Os monstros dos outros



Todos estão tontos

Pelo ouro dos tolos


Briga a vida pelos outros

Momento de Inspiração repentina e minha relação com meus personagens

Bom, como não estou tendo tempo ultimamente para buscar coisas interessantes pela internet afora. Acho que vou ficar um tempo sem postar um "Follow Friday". Ao invés disso, vou falar um pouco do meu livro - ou dos meus livros, já que eu nunca escreve um de cada vez, hehe - que está quase pronto.




Ontem estava sentada estudando para o concurso público, quando de repente um pensamento me inundou o cérebro e me impediu de pensar nas matérias que eu deveria estar estudando. Meu livro, lá no fundo da minha memória semiconsciente, dizendo "Ei, não esqueça de mim. Eu quero nascer, ganhar vida e florescer".

Essa é um daqueles momentos mágicos na criação de um universo em que sua criação conversa com você. Meus personagens ganharam vida, me advertiram que eu estava me esquecendo deles e propuseram o roteiro de uma aventura para a tarde de ontem. Enfim finalizei a quarta parte do livro e estava satisfeita. Mas o que disseram meus personagens? "Volta aqui, a gente ainda não acabou." E ignorando completamente meu roteiro inicial, me levaram para um outro lado desse mundo que eu mesma criei. Me mostraram um outro ângulo, uma outra face.

Cheguei ao ápice da história. Como quando uma mãe percebe que seu filho cresceu e não precisa mais dela, sinto que meu livro pode cuidar de si mesmo. E tenho que ir me despedindo dos meus personagens. A última parte, e a mais esperada, não é tão difícil de ser criada. Mas é a parte mais difícil de ser escrita. Diferentemente da primeira parte, que é sofrida e penosa, principalmente porque você ainda está conhecendo os personagens e seu universo, a última parte é aquela em que tudo já foi dito e não há mais o que se criar.

É chegada a hora de dar o ponto final. Resolver os problemas. encaminhar sua criação ao mundo. E esperar que ela se saia bem nas adversidades. E torcer para que se destaque das demais.

Tive que me deter, saborear o momento e a sensação de chegar ao fim. Sabendo que depois de escrever a última palavra, aqueles personagens vão encarar uma viagem para além da imaginação de outras pessoas. E vão ganhar forma sob outras perspetivas.

É gratificante a sensação de concluir algo. Mas é melancólica a sensação de deixar ir. Meu livro vai viver em outras mentes e sem a minha manual interferência.

Karen e as Craques de Ilha Bela



Karen estava na aula de fotografia, eperando Luciana terminar de usar a câmera da facudade e pensando no que gostaría de fotografar para o projeto de verão. Luciana estava enpolgadíssima, fotografando uma mulher bem bonita com roupas esportivas. A mulher fazia poses com bolas de futebol e de basquete, como se estivésse jogando uma partida em câmera muito lenta.

Karen ficou curiosa com o que se passava na mente da modelo quando Luciana pedia para que ela fizesse cara de "desafio aceito" abraçada numa bola. algumas poses ficavam realmente sensuais e pouco esportivas.

Luciana tentava parecer profissional, mas estava apenas aprendendo. Por outro lado, a modelo parecia já saber exatamente o que Luciana queria. As fotos ficaram lindas, mais porque a modelo ajudava do que pela técnica da fotógrafa.

Ao final da sessão, Luciana tirou o cartão de memória da câmera para transferir as fotos para seu notebook. Enquanto esperava Karen resolveu conversar com a modelo, que apenas colocou um agasalho por cima de sua roupa esportiva.

_ Você já faz iso há algum tempo, não?
_ Ah, sim. Faz uns três semestres.
_ Não entendi... Você nao é modelo?
_ Não. Na verdade eu jogo no time de futebol feminino da Ilha Bela. Mas como precisava de uma grana vim pagar de modelo aqui.
_ Que interessante. Mas você parece muito profissional fazendo isso.
_ É que os alunos pedem sempre a mesma coisa. "Faz cara de fodão". "Dá um pulinho". "Agora abraça a bola". _ elas riram _ São bem previsíveis.
_ Eu imagino.
_ É a primeira vez que te vejo aqui.
_ É que eu prefiro fotografar a natureza.

Ao pegar a câmera Karen teve a ideia de ir assistir ao jogo de futeol femininno de Ilha Bela. Ao chegar lá a modelo estava em campo com outras mulheres. A partida parecia difícil e todas faziam caretas enquanto chutavam a bola e esbarravam umas nas outras. Karen começou a fotografar a partida, dando mais atenção ao gramado e ao campo no início. Então começou a focar nas jogadoras e clicou-as várias vezes.

Fonte: Atlets

Com o término da partida foi para a sala de informatica da faculdade e transferiu as fotos para seu pendrive. Ao revê-las viu que algumas fotos estavam bem autenticas e parecidas com as fotos de Luciana. Porém um pouco mais verdadeiras. Em uma das fotos uma goleira faria cara de fodão, encarando a bola já no pé de uma jogadora que batia um penalt. Aquela mulheres não eram modelos mas sabiam demonstrar com poucas espressões faciais que aceitavam o desafio.

INCONSCIENTE

fotos.fot.br
Foto: Celso Júnior.


O Tempo,

No relógio, na ampulheta,

Nas sombras,

Na luz do chão.



Com o tempo,

A brisa passa,

A chuva cai,

Eles vem e vão.



Sem tempo,

Sem pressa, sem demora,

Sem preguiça, sem medo

Sem dúvida se joga.



O tempo,

Na luz do chão,

Vai e vem,

Sem demora vem e fala:

“Sem medo vai, se joga”




Sem medo

Vai


Se joga

Uma Páscoa Especial - Blogagem Literária coletiva - Tema #06 Projeto BLC

Todos sabem que Abril é o mês que comemoramos a Páscoa e que esta data representa a ressurreição de Cristo, não é? Aproveitando esta data comemorativa, decidimos homenagear essa época tão especial e ao mesmo tempo entregar a vocês um presente mais gostoso que chocolate.

Sendo assim, imagine que você possui o dom da ressurreição literária. Mas este dom é limitado, você só pode escolher três personagens para ressuscitar.

Esta é sua oportunidade de trazer de volta aqueles personagens que quando morreram levaram junto um pouco de você. Quais seriam estes personagens e quais motivos levaram você a escolhê-los?

Esta postagem faz parte do Projeto Blogagem Literária Coletiva promovido pelos Blogs Monykisses e Diário de uma LivroManíaca.

As minhas escolhas


Fiquei sabendo essa semana de um projeto super legal chamado Projeto Blogagem Literária Coletiva, que consiste em vários blogueiros postando sobre um assunto temático. A cada mês lança-se um tema novo e os blogueiros abordam o assunto em seus blogs.

Eu peguei o bonde já andando, mas já adorei o tema desse mês que é a Resurreição de um personagem. Uma referências à Páscoa. A proposta é: se você pudesse trazer de volta do mundo dos mortos três personagens, quais seriam e por quê?


  • Vitor (Um homem de sorte)
Fonte da Imagem



















Esse é um tema bem difícil. então vou começar pelo último livro que li do Nicolas Sparks. Eu concerteza traria de volta dos mortos o Vitor, amigo de Thibault em Um homem de sorte. O motivo é bem simples, o homem depois de servir o exercito por anos estava finalmente encontrando o seu final feliz. É certo que ele tinha alguns problemas por causa do trauma da guerra. Mas era uma personagem que merecia uma recompensa pelos anos de serviço à nação e ao seu amigo Thibault. Vitor era um homem que acreditava no destino e, na minha opinião, o destino brincou com ele. E isso não é justo.

  • Dumbledore (Harry Potter)



















Esse é um daqueles personagens controvérsos que eu ainda não tenho certeza se era bonzinho ou um grande lobo em pele de cordeiro. Mas onde J.K Rolling estava com a cabeça quando matou Dumbledore? Acho que Dumbledore deveria ter sua própria história baseada no livro de Rita Skeeter, porque fiquei super curiosa para saber o que viveu esse grande bruxo. Além de muito misterioso, Dumbledore foi um grande mestre. Mesmo tendo um passado meio duvidoso e sua história com Harry ter tido um final revelador, ele era querido por vários personagens. Era um mentor, um mestre. Outra morte injusta, concerteza.


  • Marley (Marley e Eu)

















Apesar de ser um cão, acho que Marley teve uma vida muito curta. Ele é o tipo de personagem que deveria viver para sempre. Um ser infinito, assim como o amor que ele transpira. O melhor amigo do homem é, certamente, o personagem que carrega uma mensagem cativante. E digo mais, Marley é m personagem que valeria por muitos seres reais em companheirismo.


Bom, esses são os meus personagens queridos, que gostaria que voltassem à vida em suas histórias. Ou mesmo na vida real (por que não?). Foi uma lista pequena e muito difícil de fazer. Mas, além da afinidade com o personagem, fico me perguntando: quem sou eu para dizer quem vai e quem fica? Os criadores dessas histórias são seres fantásticos e de uma sensibilidade incrível. Acho que isso é o que torna tão difícil para nós, como leitores, dizer adeus a um personagem.

Deixe seu comentário aqui em baixo e até a mais.

Karen e as Belas de Ilha Bela



Karen estava já no segundo ano do curso de Jornalismo, quando seu professor sugeriu que a classe fizesse um jornal online como forma de trabalho semestral. Eles debateram e chegaram a conclusão de que o jornal deveria ser dividido em 5 categorias: Notícias, Entretenimento, Esportes, Educação e Variedades. Karen e seus amigos ficaram com a categoria Variedades.

Karen que se envolvia em todas as atividades da faculdade começou a listar todas as outras coisas que não se enquadravam nas outras categorias.

Seu amigo Júlio era fotógrafo amador e saiu com ela para garantir os cliques perfeitos. Numa de suas saídas para coletar informações sobre as variedades do campos, esbarraram com Lúcia, uma faxineira muito simpática que conversava com todo mundo. Lúcia cantava no momento em que eles passavam e Júlio não perdeu tempo, clicou a senhora que levou um susto com o flash.

_ A senhora canta muito bem, Dona Lúcia. _ Karen elogiou a senhora e interrompeu sua busca por uma matéria para conversar com a faxineira.

_ Ah eu sempre gostei de cantar, desde criança. Sabe, quando eu era moça eu cantava na igreja. Eu era muito boa nisso, cheguei até a participar de competições com o coral da cidade.

_ Nossa, isso é incrível! Qual era o nome do coral?

_ As Belas de Ilha Bela.

_ Hum, que nome lindo. E vocês ganharam alguma competição?

_ Ah, nós ficamos em segundo lugar na competição de primavera do ano de 1978. Saiu até no jornal. Coisa mais chique você precisava ter visto.

_ Olha eu vou procurar na internet, hein.

_ Você canta uma música pra gente?

Lúcia abraçou a vassoura que tinha nas mãos e cantou um trecho de MPB para os jovens. Júlia gravou a senhora cantora, enquanto Karen assistia-a deslumbrada com a linda voz da mulher.

Mais tarde eles se deram conta de que já tinham uma matéria para seu jornal do semestre. Karen se encarregou de fazer a busca na internet para encontrar os dados do concurso em que as Belas de Ilha Bela ficaram em segundo lugar e encontrou Lúcia jovem e sorridente em uma foto ao lado de suas colegas, todas vestidas com um lindo vestido e fita no cabelo.