Heitor era jovem pescador quando
saiu pela primeira vez sozinho para alto mar, seu pai havia ficado de cama por
causa de uma indigestão grave. O jovem era magro, mas forte, tinha os cabelos
negros e a pele queimada pelo sal e pelo sol. Ele já tinha experiência em águas
rasas, mas seu pai sempre lhe dizia para tomar cuidado com as coisas que o mar
sempre traz. Raras foram as vezes em que o mar trouxe às águas rasas da vila
criaturas estranhas e disformes já sem vida. Os pescadores acreditavam que era
algum aviso dos deuses para que não pescassem naquele período. Houve uma vez em
que muitas frutas coloridas foram trazidas pela maré alta, algumas deles eles
nunca haviam provado e os mais velhos da ilha disseram que era um presente
daqueles que os vigiavam do outro lado.
O jovem jamais contestou as
crenças do povo da vila, acreditava em todas elas. Fez sua prece aos deuses
antes de entrar no barco e prometeu que traria a mesma quantidade de peixes que
seu pai, nenhum a mais. Ele sabia que se quisesse poderia levar muito mais do
que seu pai. Era mais jovem, mais forte e desenvolveu algumas técnicas que seu
pai se recusava a usar. Mesmo assim ele lembrou-se do que sua mãe havia dito
antes de sair para o mar. “O mar sempre nos oferece o que precisamos, não há
razão para se aventurar para além do mar”. Ele não entendeu o conselho a
principio, mas agora vendo a imensidão daquele mar ele percebeu que se tivesse
um barco maior com certeza iria querer se aventurar para além das águas
cristalinas daquele mar. Mais ao longe as águas ficavam turvas e obscuras. Todos
acreditavam que aquela parte do mar era propriedade dos deuses e ninguém ousava
navegar para lá.
O jovem pescador já havia
conseguido a quantidade exata que seu pai estava acostumado a levar. Ficou ali
comtemplando o horizonte e as águas escuras, questionando-se se havia algo além
do mar. De repente ouviu um barulho de algo se debatendo na água do mar. Virou-se
e viu que alguém havia mergulhado e estava agora a nadar. Era uma mulher, de
cabelos loiros e braços magros nadando como um peixe divertidamente. Deu uma
boa olhada em volta e não avistou nenhum barco, grande ou pequeno que pudesse
tê-la levado até ali. Ela parou em frente ao jovem flutuando na água e
sorridente.
_ Como chegou aqui? – ele quis
saber.
_ Um barco amigo. Me deixaram para
trás. _ Ela debruçou na beirada do barco e ficou encarando-o.
_ Quer que eu lhe dê uma carona
de volta? É muita água para nadar...
Ela aceitou e ele a viu subir no
barco de forma ágil e sem ajuda. Eles seguiram até a praia conversando sobre os
peixes que Heitor costumava pescar. Ela falou da paixão pelo mar e de como
gostava de nadar. Heitor vendeu os peixes, levou alguns para casa e a convidou
para jantar. Ela aceitou com o mesmo sorriso encantador. Quando a noite já
estava escura e o mar brilhava com a luz da lua ela se despediu e disse que
teria que voltar.
Foram até a praia e Heitor a
assistiu brincar com a areia. Ela passeou
a beira-mar. Pegou algumas conchas e guardou-as das dobras da saia. Ele sentou na areia e deixou-a partir, sem
tirar os olhos da mulher cujos cabelos tinham o brilho do sol. Mais adiante ela
entrou na água novamente e nadou até alto mar. Então ele percebeu que como uma
sereia, ela pertencia ao mar.
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